Todos temos feridas. Feridas por quedas, por acidentes, por forçar algo que não é natural, feitas por outros e por nós mesmos. Quando crianças, tínhamos sempre o joelho ralado. Quedas de bicicleta eram normais, ou quando corríamos sem qualquer cuidado, sempre exibíamos um ralado, geralmente nas extremidades: joelhos e cotovelos. Crescemos e os ralados diminuem, pelo menos externamente.
Tomamos cuidado caso precisamos correr, avaliamos tanto os riscos de uma queda que acabamos por nos tornar sedentários. Em compensação, nossos joelhos não possuem ralados.
Os ralados na infância facilmente tornavam-se feridas, em alguns casos por não ter tempo para curar, uma ferida em cima da outra, ou por não ter os cuidados necessários: terra e sujeira num local aberto e então podiam proporcionar entrada de bactérias. Nesse caso, a ferida demorava sarar.
Os adultos encobrem bem suas feridas. Geralmente, são internas por “quedas” na caminhada: uma traição, uma palavra fria, uma resposta impensada e o que era para ser somente um ralado, torna-se uma grande ferida.
Expomos demasiadamente a mesma a ponto de fungos e bactérias começar a penetrá-la. Assim, a ferida feita por uma traição abre portas para a amargura, o rancor e o ódio, tornando-se purulenta e fétida. E, se não for cuidada pode estender a machucadura por todo o corpo, levando à morte.
Feridas precisam de remédio, às vezes um tratamento um pouco demorado, mas não pode ser ignorada. Feridas doem, mas a dor tem uma função importante no nosso corpo: mostrar o limite e a importância de um tratamento que atinja o problema. A falta de sensibilidade à dor leva o corpo à falência pois o expõe a fatores de risco que evitamos quando o corpo reage à dor, como: fogo, cortes profundos e impactos demasiados. Os que possuem lepra são insensíveis à dor e, portanto, sofrem a morte de membros importantes por não conseguirem se proteger dos riscos ao organismo.
A dor interna, de uma ferida viva, também precisa de remédio. A causa precisa ser tratada, um analgésico é importante, mas não consegue tratar o problema, apenas diminui os seus reflexos. Precisa-se de repouso, de expurgar o mal, de antibiótico, de oração e de companhia.
Há situações que geram o oposto da falta de sensibilidade: o excesso dela. Quando eu era criança lembro-me de ter uma amiguinha que gostava muito de possuir ferida, ela mostrava para todos os amigos, acariciava a ferida e até a beijava! Isso, é claro, impedia a ferida de sarar. Ela sempre estava com alguma ferida grande, vermelha, sangrando ou com pus. Parecia exibir um troféu quando dizia: “Olha a minha ferida”! E, realmente, a sua ferida sempre era a pior de todos os amiguinhos. Ela “curtia” a ferida. Por algum motivo, a ferida a tornava especial, digna de dó e piedade dos que a rodeavam.
Infelizmente, há pessoas que gostam de exibir suas feridas. Quando encontram alguém que tem dor ou que está sofrendo por algum motivo é capaz de dizer: “a minha ferida é a mais importante”! “Olha, como ela sangra”! São aqueles que gostam de atenção para si mesmos, nem que seja pela pior situação! Gostam de se vitimizar e de serem dignos de dó. São incapazes de se compadecer pelo outro, apenas enxergam-se a si mesmos. Essa superestimação da dor e da ferida impede que a mesma seja curada. É necessário desprender-se da vitimização e da dependência da dor, para que a ferida possa fechar. É necessário deixa-la cumprir o ciclo da renovação celular e da reconstrução da pele.
O nosso corpo por si só tem um sistema divino de reconstrução e cura. Isso pode acontecer quando estivermos com uma ferida interna, continuar o nosso processo de alimentação espiritual e emocional para o abastecimento correto para uma renovação interior, o que poderá ser suficiente para a cura da ferida.
É claro que em algumas situações serão necessários momentos de internação, tratamento mais intenso que trate profundamente a ferida. E, nesses casos, precisaremos nos deixar ser tratados para um processo intensivo de cura.
Provavelmente, em alguns momentos precisaremos ser carregados no colo, sem possibilidade de andar. Nesse caso, deixar o orgulho de lado e nos render aos cuidados de Deus através de pessoas que nos lavem os pés, nos coloquem nos ombros como fez o samaritano, e nos levem numa hospedaria onde seremos servidos e termos nossos machucados tocados com remédios, nos proporcionará a restauração completa e seremos restabelecidos para continuar nossa caminhada a ponto de cuidar de outros da mesma forma. Afinal, nossa vida não tem um fim em si mesma, só faz sentido quando se relaciona com o Criador que é o dono da cura e o médico dos médicos, e com os outros peregrinos que ora nos carrega e ora são carregados por nós.
A Bíblia fala
Jeremias 30.17: Farei cicatrizar o seu ferimento e curarei as suas feridas!
Salmos 147.3: Só ele cura os de coração quebrantado e cuida de suas feridas!
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