Acerca do Trabalho

Crescemos sendo preparados para o trabalho. Estudamos para trabalhar, fazemos cursos e ouvimos sempre as mesmas perguntas: O que você quer ser quando crescer? O fato é que crescemos, com o crescimento vem as obrigações, as contas a vencer, a casa para cuidar, os filhos para suprir. Ter família, casa, profissão é uma bênção, sim! Mas, é claro que nos desgastamos. Afinal, o mercado de trabalho é o que é: milhares de pessoas à espera de que você desista para entrar nele; salários por vezes indignos; canseira; muitas responsabilidades; e, por fim, a esperança falida de se aposentar.

O trabalho está presente desde os primórdios da sociedade. Há os que acreditam que é uma maldição e os que o fazem com prazer olhando-o como bênção. A Bíblia está repleta de referências ao trabalho. Vejamos o exemplo de Davi: ele não ia à guerra, mas trabalhava cuidando das ovelhas do seu pai. E fazia o trabalho com excelência chegando a defender as ovelhas de leão e urso.

Jesus quando veio à terra foi duramente criticado por curar no sábado. Os religiosos sempre estavam à procura de encontrar nele um pecado, e, o questionavam por realizar milagres no dia santo. Em uma dessas ocasiões ele respondeu: Meu pai trabalha até agora e eu trabalho também (João 5.17). Essa ideia de Deus Pai trabalhando destrói aquelas imagens que temos de um Deus sentado no trono, dando ordens e tirando alguns cochilos. Deus trabalha. No Salmo 121 diz: o seu protetor não dorme e nem cochila! É claro que toda essa onipotência nos foge do entendimento, pois sabemos para nós, humanos, o quanto é necessário o descanso, o cochilo e uma bela noite de sono.

Deus não é limitado. No entanto, ele também descansou, como vemos em Gênesis 2.2. Talvez, a dificuldade maior do trabalhador de hoje é descansar! Estamos, por vezes, tão envolvidos com as questões referentes ao serviço que executamos que passamos os momentos que seriam para descanso para procurar saídas dos problemas que lá ficaram. Ou, muitas pessoas, necessitam de outros trabalhos concomitante para dar conta de suas necessidades pessoais, visto, a baixa valorização econômica do trabalho. Saem de um trabalho e entram em outro, vivendo uma vida exclusivamente para o trabalho, o que é terrivelmente desgastante. E, a maioria das mulheres (infelizmente, poucas exceções) dobram a jornada de trabalho faxinando suas casas e deixando tudo pronto para a próxima ausência do lar, devido ao trabalho fora de casa. Essas mulheres, parecem incansáveis, no entanto, vivem esgotadas por dentro e por fora, não tendo tempo para si mesmas, e nem para o sagrado descanso.

No nosso País, quem não teve o privilégio de vir de uma família com o mínimo de condições financeiras, trabalha desde cedo. Informalmente, desde a puberdade, as meninas fazem “bicos” como babás, ou realizam pequenas e importantes tarefas de buscar os filhos de alguém na Escola ou creche. Atravessam ruas perigosas com crianças com pouca diferença de idade e precisam amadurecer bem cedo. As consequências são péssimas. Meninas mães desde cedo, os estudos ficaram para trás, afinal se dá mais importância ao trabalho frente à educação.

Os meninos começam a trabalhar cedo de “aviãozinho”, vigiar becos e ser informantes de traficantes. Com pequenos trocos nos bolsos vêem se mais valorizado ali do que no banco de uma Escola precarizada, com professores não preparados para essa realidade. Eles não entendem o por que de estudar “Semana da Arte Moderna” quando milhares de sua comunidade enfrentam o desemprego, a fome, a guerra, o a falta de saneamento básico e a possibilidade de despejo com força militar.

Portanto, como nação não temos muito o que comemorar. O trabalho é para poucos, quase um atestado de sobrevivência; e uma vitória diária para muitos que correm atrás de um ônibus lotado ou atrás de um caminhão de lixo, sempre com muita pressa. O trabalho pode gerar síndrome de burnout e a falta dele depressão.

Tendo uma conjuntura tão aterrorizante precisamos aprender mais com Jesus, que trabalha até hoje, mas que deixou um exemplo de descansar em meio à tempestade, e nos ensinou a lidar com a ansiedade de forma a não sermos consumidos pelo modo de acumulação capitalista dizendo:

Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam e não furtam (Mateus 6.19, 20)

E, ao mesmo tempo nos ensina que o nosso Pai trabalha para nós e como veste os lírios dos campos, também nos vestirá, e como alimenta as aves dos céus, nos alimentará, pois temos mais valor do que elas! Nos ensina ainda a não viver demasiadamente preocupados e a buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e sua Justiça e as demais coisas nos serão acrescentadas. (Mateus 6. 25-33).

Sim, precisamos trabalhar mais para Deus do que para nós mesmos. Não podemos ser preguiçosos, insolentes, negligentes e irresponsáveis. Mas, a nossa esperança não pode estar no que fazemos, pois, poderá ser muito pouco e com um prazo bem definido. O Brasil vive uma crise após outra, as leis mudam, a população sofre (especialmente, os mais carentes), mas precisamos repousar em meio à tempestade, anunciar as boas novas do Reino aos pobres, curar os que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros (Isaías 61). O dia do Senhor virá e nada poderá escapar de seu Cetro. Ele está trabalhando, embora não possamos ver a olhos nus! Sua justiça virá e Ele recompensará a cada um segundo o seu procedimento (Romanos 2.6).

Porque, assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, assim o Soberano, o Senhor, fará nascer a justiça e o louvor diante de todas as nações. (Isaías 61.11).

 

 

 

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