Aprendendo com o inevitável ciclo da vida a viver cada fase com carinho, afeto e ternura
Era o verão europeu. A jovem senhora estava grávida de 8 meses, se sentia grande e inchada. Aquele dia era especial, estava no aeroporto à espera de sua mãe que estava chegando para ajudá-la a entrar em um momento novo e lindo.
Tão logo as pessoas começaram a sair, o coração da jovem senhora batia apressadamente, ansiosa por ver aquela pessoa tão querida e que já não a via por período de 2 anos.
De repente atrás de um carrinho de malas, surge um rosto conhecido, no entanto mais envelhecido, a jovem senhora sentiu o efeito do tempo estampado no rosto da mãe, mas não deixou que isso tirasse a beleza do reencontro. Um abraço era o movimento mais esperado e podia fazê-la sentir que o tempo não havia mudado a ternura, o afeto e o calor do contato.
Os três meses passaram muito rápido. Ficavam muito tempo juntas: a mãe, a jovem senhora e a bebê. Momentos mágicos que se foram, mas que ficaram eternizados nas lembranças. E o dia da mãe ir embora chegou.
No mesmo aeroporto da chegada, a jovem senhora a viu entrar para regressar à terra natal, onde parte da família a esperava com muita saudade.
A jovem senhora ficou com a bebê, o marido e a saudade.
O tempo passou novamente, e passa rapidamente. Tem sido cruel com as mães e com os pais. Os filhos crescem e os pais envelhecem. Gostaríamos de frear o tempo, mas é impossível. Ele passa para os momentos ruins e para os bons.
Alguns dos nossos pais são afetados pela perda da memória. As lembranças caem no esquecimento. Os filhos correm o risco de ouvir daqueles que sempre deles cuidou: Quem é você? Sim, o tempo leva com ele as lembranças e as mais doces emoções.
O tempo também leva a saúde física. O câncer se manifesta, as dores nas articulações, a destreza física, a coordenação motora, a capacidade de executar tarefas simples. Simples rotina passam a ser grandes desafios diários a serem vencidos.
O tempo traz o desgaste da pele. As rugas tomam parte do rosto, das mãos. As manchas da velhice aparecem. Os tremores acontecem e os filhos desabam.
As idas aos médicos passam a ser constantes. Os remédios caros passam a ser-lhes companhia, dentre os compromissos financeiros estão o plano funerário e talvez até o jazigo.
É o ciclo da vida. Gostaríamos que fossem eternos, mas não é assim. Uma eternidade aqui seria um sofrimento sem fim. Todos nós um dia iremos. Felizes são os que vão numa velhice recheada de amor, carinho, filhos e de uma vida vivida efetivamente.
Os filhos precisam a aprender a cuidar dos pais. É hora de retribuir-lhes o carinho, o afeto e a companhia. Os netos precisam apreciar a presença dos avós que com seus cabelos brancos imprimem tanta sabedoria e exemplos a serem seguidos.
A velhice, a perda e a separação farão parte das nossas vidas. Independente da nossa aceitação. Para tanto, é melhor respeitar o tempo e saber que ele leva, mas traz outros e que afetará diretamente nossas vidas, nossa pele, nossas articulações, nosso cérebro. Um sentimento de gratidão mistura-se com dor, emoções inexplicáveis e sabores inigualáveis.
Trilhar o caminho da família é ver chegar e ver partir. Ser afetado pelo milagre da vida – procriar e deixar ir é privilégio de poucos. Perceber as constantes mudanças no corpo e no contexto familiar nos traz nostalgia, medo, insegurança e pavor. No entanto, isso não vai tirar a possibilidade de passar por tudo isso.
Os aeroportos da vida estão cheios de pessoas chegando e saindo. As jovens senhoras esperam algo acontecer e a saudade diminuir. Quiçá os encontros sejam calorosos, amigáveis e cheios de afetos. Quiçá as partidas sejam permeadas por lágrimas de gratidão e lembranças carinhosas, e que na porta de embarque haja um aceno indicando um “Até Breve”.