O encontro de Jesus com o homem rico é bem interessante. O jovem olhou para Jesus e lhe perguntou, chamando-o de Mestre, o que faria para herdar a vida eterna. Jesus lhe deu a receita dos mandamentos, e o que lhe foi respondido era que a mesma vinha sendo praticada, então Jesus tocou no ponto mais delicado do jovem:
Falta-lhe uma coisa. Venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois venha e siga-me. (Lc. 18.22).
O jovem se entristeceu, pois era muito rico. O motivo da tristeza talvez fosse o temor em desapegar de tantas posses. Naquele tempo talvez ele tivesse campos, casas, animais, ouro e prata… Se fosse hoje, possivelmente, teria carros, casas, fazendas e, talvez, até um jatinho particular.
O fato é que as riquezas nos prendem. Quanto mais se tem mais se quer, a ponto de pensarmos bem se, é, de fato, interessante seguir Jesus.
Conhecer os mandamentos é fácil, seguí-los não é tão difícil, mas, desprender-se, desapegar-se daquilo que demoramos para juntar ou que recebemos de herança é o passo mais desafiador que existe.
Penso que o jovem rico estava à procura de outra resposta, quiçá desejava ouvir que já havia herdado a vida eterna, no entanto, a vida eterna não se consegue com bons costumes ou com bons nomes, mas, somente através de Jesus.
A Igreja de Laodiceia pensava estar bem com suas riquezas, dizendo: estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada (Apoc. 3.17). No entanto, foi lhe dito pelo Anjo que ela não reconhecia ser: miserável, digna de compaixão, pobre, cega e nua.
A riqueza tem o poder de nos deixar cegos (veja o artigo da cura um cego – perguntas irrelevantes). O não reconhecer que precisamos de Deus e do outro nos fragiliza e nos leva para mais longe da Vida Eterna.
Jesus já teria feito a pergunta: Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Marcos 8.36).
Não creio que com isso podemos ser preguiçosos, no entanto, a nossa correria, a ambição, o desejo de acumular mais e mais não deve ser o objeto da nossa vida. Pois ela é passageira, e mais cedo ou mais tarde nos encontraremos com Jesus.
Em Provérbios 30.8 e 9, o autor declara:
Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário. Se não, tendo demais, eu te negaria e te deixaria, e diria: Quem é o Senhor? Se eu ficasse pobre, poderia vir a roubar desonrando assim o nome do meu Deus.
Atualmente, temos muitos cristãos donos de verdadeiros latifúndios, cristãos milionários, donos de grandes fortunas. Cristãos que só andam de carros blindados, que só saem de casa armados ou com vários seguranças em seu derredor. Cristãos que expõem suas mansões na mídia, que possuem milhares de seguidores nas redes sociais, que o que fazem vira show. Cristãos abastados de bens, donos de jatos, colecionadores de carros raros, que só andam com roupas de grife, cristãos que pobre não chega perto. Cristãos como o jovem rico.
Às portas do cristão rico, estão muitos lázaros. Não tiveram oportunidade de estudar, foram para o mercado de trabalho desde criança, órfãos de pai vivo, viram seus irmãos serem mortos no tráfico de drogas, tentaram manter o barraco da favela, sem sucesso, pois foram pegos pelo desemprego. Carregam o dia todo o carro improvisado de reciclável pelas ruas, desafiando o trânsito. Com as migalhas que ganham alimentam os cachorros abandonados que encontram pela rua, e se deitam nas calçadas para descansar e suplicar por um copo de água limpa.
Nas portas das empresas dos ricos há uma fila enorme de Lázaros com um currículo enxuto, enfrentando sol e chuva em busca de uma colocação no mercado.
Nas portas dos hospitais públicos, existe uma multidão de Lázaros doentes, permanecendo até 24 horas seguidas, implorando por uma consulta de 2 minutos, onde o médico sequer olha na sua face e está sempre de mau humor.
Os presídios estão lotados de Lázaros que viram na criminalidade a única forma de sobrevivência, há espera por um advogado público que não vem. Vêem seus anos de prisão serem eternizados por falta de um julgamento digno.
Os abrigos de criança e adolescente estão cheios dos filhos dos Lázaros. Crianças que foram geradas no crack, descendentes de famílias inteiras de doentes mentais graves, abandonados por uma sociedade que não deseja adotar criança grande por dizer que já estão com muitos maus costumes.
As nossas riquezas nos impedem de chegar a Deus. Maria, grávida, não encontrou lugar para lhe acolher em nenhuma hospedaria. Deu à luz em meio aos animais. Jesus cresceu com as crianças pobres, provavelmente improvisava seus brinquedos como milhares de crianças carentes fazem até hoje. Jesus cresceu e viu as injustiças, o jumento que andou era emprestado, a casa da última ceia também. E, tristemente, dizem que em nome dele ajuntam riquezas, blindam-se os carros, escurecem-se os vidros. Afinal, os pobres incomodam.
As igrejas estão cheias de jovens ricos que não precisam de nada. Garotos e garotas que crescem aprendendo com os pais a serem egoístas, interesseiros, individualistas e que possuem tudo bem fácil, à mão. Não entendendo como é que existem tantas pessoas que não conseguem sequer quitar a conta da luz.
As igrejas suntuosas contrastam com o Jesus da Bíblia. Seus pastores com carros de última geração ou com o jato particular nos faz questionar onde foi que Jesus mudou.
Em nome do dinheiro pregam. Em nome do dinheiro, passagens aéreas e hotéis de luxo se canta algumas músicas, especialmente, aquelas que dizem: Tudo o que eu preciso está em ti, Senhor!
A igreja rica não tem espaço para Lázaro que mendiga um pouco de pão, acolhimento e consolo. Possivelmente, Jesus também está lá fora, esperando uma oportunidade para que olhem a Ele questionando:
“O que eu posso fazer para ter a vida Eterna?”