Minha mãe me ensinou o que é multiplicação quando serviu dois ovos fritos, cortados ao meio para 4 pessoas, onde todos ficaram satisfeitos, e fez dessa refeição a mais lembrada pelos seus filhos até hoje;
Minha mãe me ensinou o que é consolo quando me recebeu chorando, por ter caído e cortado o joelho na tentativa de lhe mostrar os poucos e raros trocados que eu havia recebido do meu pai; fez desse ato um ensinamento de que consolo é melhor que dinheiro;
Minha mãe me ensinou o que é comemoração quando me recebeu de braços abertos debaixo do varal onde estendia roupa, quando eu cheguei da escola saltitando de felicidade por ter “passado de ano escolar”, me fez entender que a comemoração é importante em qualquer lugar, desde que sincera;
Minha mãe me ensinou o que é perdão quando me ensinou a nunca revidar a afronta daqueles que riam de nós por sermos pobres e protestantes, aprendi cedo a conviver com pessoas ignorantes que não suportam o diferente;
Minha mãe me ensinou o que é contentamento quando dizia que a obediência dos filhos era o seu melhor presente, nunca reclamando por não ganhar um presente de aniversário ou do dia das mães;
Minha mãe me ensinou o que é perseverança quando lutava (e luta) silenciosamente contra doenças que ameaçavam a sua tarefa de ser mãe e cuidadora;
Minha mãe me ensinou o que é fidelidade, quando honrava o meu pai na frente dos filhos e, em face de sua ausência devido ao trabalho, sempre agiu como se ele estivesse presente;
Minha mãe ensinou o que é a fé, quando a víamos ajoelhada orando, muitas vezes com lágrimas, no chão simples e gelado de casa;
Minha mãe me ensinou o que é gratidão quando nos ensinava a orar agradecendo pela refeição cuidadosamente preparada por ela, na maioria das vezes o mais básico possível;
Minha mãe me ensinou o que é customização quando aprendeu a costurar para um melhor aproveitamento de roupas usadas que ganhava para adequar aos filhos;
Minha mãe me ensinou o que é generosidade quando recebeu, sem reclamar, um ônibus cheio de pessoas para alimentar, que estavam na rodovia quando aconteceu uma pane elétrica que os impedia de continuar a viagem. Na ocasião foi para o fogão por volta das 18 horas e preparou arroz, feijão e mandioca frita, matando a fome dos viajantes;
Minha mãe me ensinou o que é desprendimento quando me permitiu voar e mesmo em face da saudade incentivou a continuar e a alçar voos mais altos;
Minha mãe me ensinou o que é superação quando entrou em um avião pela primeira vez rumo a outro continente para cuidar de sua filha grávida, permanecendo ali por 3 meses, orientando a mãe recente de forma corajosa e alegre pela oportunidade de servir;
Minha mãe me ensinou o que é o amor, ao lidar com uma filha com transtornos psiquiátricos, tratando das consequências do problema e nunca perdendo a esperança de viver dias melhores;
Minha mãe me ensinou a imperfeição, quando demonstrava cansaço e dor, no entanto, sempre dando chance a rir de uma boa piada e de nossas próprias anedotas;
Minha mãe me ensinou que viver vale a pena, quando fez dos mais simples momentos oportunidades de aprendizado;
Minha mãe me ensinou a ter saudades e a conviver com ela, sem, no entanto, voltar atrás, ensinando que o passado não pode ser revivido, mas apenas revisitado na memória, com esperança de reproduzir os conceitos aprendidos aos nossos descendentes;
Minha mãe me ensinou outras coisas que ainda não consegui identificar. Mas, me deixa a cada vez que nos encontramos uma gratidão de ter sido por ela gerada e um desejo de ser parecida na força, na humildade e na sabedoria que carrega;
Eu cresci, mas ainda tenho medo de perde-la, descobri que não posso evitar certas dores e lágrimas e, que não há presente capaz de recompensá-la por tudo o que me ensinou.
Te amo, mãe, D. Almerinda!
Linda homenagem, Lidia. Ela é admirável. Também amo D. Almerinda… minha segunda mãe!