Para muitas pessoas não é raro se emocionar em filmes e chorar com o sofrimento alheio nas telonas, movidos pelos enredos e por todos os mecanismos de sons e cores, porém, vivemos um tempo em que é muito difícil se emocionar com a realidade. A dor do outro é, para nós tão alheia, tão pequena… Principalmente se o outro não tem status, não tem dinheiro e nem fama. Se esse “outro” não tiver “nada” para nos oferecer ele passa despercebido por nós, com lágrimas, com dores e com deficiências.
Num mundo onde o “outro” só tem valor se puder saciar alguns dos nossos pecados capitais, satisfazer nosso ego ou abrilhantar a nossa existência, não nos movemos com a dor do desamparado, do pobre, do aflito, do necessitado, do mendigo, do joão-ninguém, do indigente. Entramos na nossa casa confortável, erguemos o vidro do carro, ativamos a internet do celular e entramos para nosso mundinho hipócrita para responder solicitações de amigos, curtir e comentar status que não fazem qualquer diferença, repassar mensagens de autoajuda e distribuir coraçõezinhos falsos.
O exemplo de Jesus não parece ser suficiente quando olhava para cima da árvore para enxergar Zaqueu, quando parava a multidão para ouvir uma mulher considerada imunda, quando oferecia água viva e eternidade para uma mulher adúltera, comumente chamada hoje de “vadia”. Jesus viu o ladrão, o chamou para um lugar paradisíaco mesmo em face da dor, da exposição pública, da humilhação e da morte. Socorria enfermos diversos e tinha compaixão até de quem carregava legião de demônios.
Ao contrário dele, selecionamos nossos “amigos”, claro, aqueles que não possuem qualquer hipótese de nos magoar. Que são cheirosos, limpinhos, bonitos, bons profissionais, andam de carros bons… Somos preconceituosos, arrogantes, orgulhosos. Dessa forma, impossível chorar com os que realmente choram.
Muitas pessoas estão chorando hoje. Não é difícil encontrar quem sofre. Os hospitais estão lotados de pessoas que choram, os públicos possuem pessoas espalhadas até no corredor, em macas, sem nenhuma privacidade na dor. Os faróis possuem pessoas que sofrem, os abrigos, albergues, favelas, nas filas dos mercados, do atendimento bancário e em todos os lugares que passamos.
Chorar com aquele que chora é compartilhar da dor, é levar o fardo pesado do outro (Gl. 6.2), é fazer o bem (Gl. 6.9), é fazer o que gostaria que fizessem por você (Mt. 7.12), é não julgar (Mt. 7.1), é não olhar para a aparência (I Sam. 16.7). Se compadecer com a realidade sofrida por muitos é ser gente, é ter humanidade, é reconhecer que não podemos fazer nada! E, que não temos o controle sobre a nossa vida, tampouco a dos outros e reconhecer que não somos melhores do que quem está sofrendo!
Está permitido chorar com o outro. A Bíblia diz que é melhor ir numa casa onde há luto do que onde há festa (Ec. 7.2), deixar a lágrima rolar, muitas vezes, em silêncio, em companhia de quem sofre pode ser o melhor consolo, a melhor demonstração de empatia e de compaixão. Jesus chorou e levou sobre si as nossas dores, dores do pecado, da aflição, da nossa limitação! Este é o melhor exemplo de amor, companheirismo e misericórdia!
Biblia Sagrada
Alegrem-se com os que se alegram; chorem com os que choram. Romanos 12:15